segunda-feira, 28 de março de 2011

CADÊ O OVO COLORIDO?

DONOS DE BOTEQUINS LAMENTAM FALTA DE PROCURA POR PRATOS TRADICIONAIS DA BAIXA GASTRONOMIA.

Foi-se o tempo em que os balcões de botequim serviam apenas porções de moela, tremoços, torresmo, pernil aperitivo e ovos coloridos. Hoje, com a elevação de pés-sujos à categoria de botecos de grife, a baixa gastronomia carioca e paulistana sofisticaram-se. No cardápio, agora figuram quitutes até pouco tempo atrás impensáveis aos boêmios, como espetinhos de filé mignon e copa assada com molho escuro com legumes crocantes. Esses dois últimos pratos, por exemplo, estão entre os concorrentes do concurso "Comida di buteco", para decidir qual o melhor representante da culinária de botequim.

Para Francisco de Souza, o Chico, dono do boteco que leva seu apelido na esquina das ruas Pardal Mallet e Francisco de Souza, na Tijuca, esse tipo de comida não tem cara de boteco. Eu vendia espetinho de filé com arroz à la grega quando era garçom de restaurante. Nunca vi isso em bar. Mas, hoje, percebo que alguns pratos, como o pé de porco, não interessam aos mais jovens, que preferem frango a passarinho ou algo do tipo.

Outro clássico dos bares cariocas, o ovo colorido, também vem perdendo espaço. Francisco Airton, gerente do bar Novo Rio, na Rodoviária Novo Rio, não se lembra de ter vendido sequer um ovo para menores de 40 anos. A cada ano, a procura diminui. É questão de tempo para desaparecer.

Símbolos derrotados pela modernidade

Apesar de terem uma clientela fiel, alguns aperitivos já estão praticamente fora do mercado. O clássico tremoço, por exemplo, tem pouquíssimos entusiastas. Chico conta que até comprava o acepipe, mas ele acabava estragando por falta de procura. Percebi que não adiantava mais ficar comprando. Na verdade, eu nem vejo mais procura pelos tremoços.

A falta de apego por algumas tradições não afeta apenas as comidas dos botecos. O cearense Joaquim Rodrigues, que comanda o bar Rio-Brasília, na Rua Almirante Gavião 11, na Tijuca, lembra da saudosa cachaça Trianon, cuja fábrica, na Rua 24 de Maio, fechou. Era uma cachaça conhecida em todos os pés-sujos cariocas. Eu tinha muitas garrafas. Mas, hoje, só sobraram as de vinho composto com jurubeba.

Um comentário:

  1. Sou o maior fã de tremoço.....meu irmão tá morando na França e trouxe uns do tamanho de uma moeda de 50 centavos....uma delicia...

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